Introdução
A indústria de alimentação industrial tem enfrentado uma série de desafios ao longo dos anos. No entanto, a aplicação de inteligência artificial (IA) tem transformado radicalmente essa área, trazendo ainda mais eficiência, precisão e inovação.
Este artigo explora uma experiência vivida por mim, Sérgio Viegas, na Alimenta – Alimentação Industrial, um grande frigorífico e fornecedor de refeições para grandes indústrias brasileiras, e como os princípios da IA poderiam ter sido aplicados para revolucionar o setor, se pensássemos no mesmo cenário atualmente.
Contexto histórico
A Alimenta atendia empresas renomadas, como CSN, Copene, Magnesita, Iochpe, Sada, Usiminas, Telemig, Purina, Petroflex e Brahma, dentre outras, operando suas cozinhas nas devidas plantas e distribuindo as refeições para múltiplos refeitórios, quando necessário, como ocorria com os nove refeitórios da CSN. Na década de 1990, a gestão dessa operação complexa dependia fortemente da inteligência humana e sistemas de gestão (ERP’s) para planejamento e execução.
Como Analista de Sistemas na fase inicial, e posteriormente CIO da Alimenta, vivi a oportunidade de trabalhar no planejamento de um sistema de gestão para cozinhas industriais. O projeto foi liderado por Marco Aurélio (área usuária), um visionário que defendia a seguinte lógica: “a inteligência deve estar no sistema, não na pessoa que o opera”. Esse princípio guiou a criação de um sistema de Cozinha Industrial que simplificava o processo de planejamento de cardápios, tornando-o acessível até mesmo para pessoas sem conhecimento no assunto.
Uma das dores latentes estava no planejamento dos cardápios diários. Perdia-se muito dinheiro ao errar a produção em três aspectos:
- Se a quantidade fosse muito grande, sobraria demais nas panelas (sobra limpa). Tudo era descartado após o dia ser finalizado, pois não se pode aproveitar a comida de hoje no dia seguinte;
- Se fosse pouca, haveria a falta de comida. Esse caso seria terrível, pois o cliente pagaria para que todos os funcionários tivessem uma alimentação completa;
- Se a comida não fosse aceita, sobraria demais nos pratos (resto-ingesta), atestando que o cardápio não agradou ao paladar dos clientes.
Todos os indicadores eram analisados e lançados no sistema, visando o aprendizado futuro.
Implementação e desafios
Desenvolver a solução não era um desafio simples. A alta dificuldade na integração de dados e sistemas que, na época, sem a acessibilidade da internet, rodavam em computadores simples e stand alone. Não havia IA, então, pensávamos em dados e processos.
E um ponto crucial: Como testar se o sistema estava “aprendendo” e reduzindo a necessidade de conhecimento do operador (chefe de cozinha)?
Marco Aurélio tinha um método diferente para testar o sistema: convidava qualquer pessoa disponível, até mesmo um office boy, para gerar um cardápio no sistema. As dificuldades e dúvidas dessas pessoas eram anotadas e corrigidas, aprimorando o sistema continuamente até que ele pudesse sugerir cardápios com precisão.
Em 1995, essa abordagem inovadora foi uma revolução, embora ainda limitada pelas tecnologias disponíveis na época.
Visão atual com inteligência artificial
Se Marco Aurélio estivesse desenvolvendo esse sistema hoje, ele certamente utilizaria IA para levar a inteligência do negócio a um novo patamar. A IA pode transformar a gestão de cozinhas industriais de várias maneiras:
- Previsão de demanda: utilizando séries históricas e dados em tempo real para prever a quantidade de alimentos necessária por unidade. A IA considera fatores como previsão de pessoas nos refeitórios, cardápios a serem fornecidos no dia e sobras de alimentos anteriores;
- Recomendação de receitas: baseado em históricos de consumo, a IA pode recomendar receitas que minimizam desperdícios, tanto na preparação quanto no consumo;
- Previsão de frequência: analisando históricos, dia da semana, clima e outros fatores, a IA pode prever quantas pessoas almoçarão em uma unidade específica;
- Substituição de ingredientes: recomendar alimentos similares de menor custo que mantenham a satisfação dos consumidores;
- Análise de tendências: Identificar padrões de rejeição de alimentos e receitas, ajustando cardápios para melhorar a aceitação;
- Assistente virtual: gerar cardápios ideais com apoio humano através de chat ou voz, aumentando a eficiência.
Benefícios da integração com IA
A implementação da IA na gestão de cozinhas industriais oferece inúmeros benefícios, como:
- Redução de tempo: processos mais rápidos e eficientes, liberando os funcionários para outras tarefas;
- Redução de custos: quantidades ideais de ingredientes reduzem desperdícios e, consequentemente, custos;
- Aumento de margem de lucro: otimização de recursos e processos resulta em maior rentabilidade;
- Tomada de decisão automatizada: decisões baseadas em dados são mais precisas e eficazes;
- Aumento de produtividade: a IA pode escalar operações sem comprometer a qualidade;
- Escalabilidade: facilita a expansão das operações em novas unidades, possibilitando à empresa conquistar novos clientes e atendê-los com a mesma eficiência, sem causar novas contratações;
- Retenção de conhecimento: a inteligência do sistema preserva o conhecimento operacional, independente da rotatividade de funcionários.
Conclusão
Em resumo, a integração com IA na gestão de alimentação industrial representa uma evolução significativa, desde os métodos pioneiros dos anos 90. Com a IA, a inteligência do sistema não só facilita as operações diárias, mas oferece insights e recomendações que antes eram inimagináveis. A parceria entre humanos e IA promete um futuro de eficiência, inovação e sucesso contínuo na indústria de alimentação industrial.
“A inteligência deve estar na IA”, diria hoje Marco Aurélio, promovendo uma transformação digital que coloca a tecnologia na base das operações e empodera os profissionais a alcançar novos patamares de excelência. Eu, como CIO, estaria 100% ao lado do Marco Aurélio.
Sérgio Viegas
HopAI